No âmbito das entrevistas que temos realizado nesta transição entre duas épocas, chegamos agora à conversa com Paulo Marques, o piloto famalicense mais bem sucedido da história do desporto automóvel concelhio, sendo o porta estandarte de Famalicão por este mundo fora. Para o "Marquês", como é amavelmente conhecido, os tempos têm sido de mudança, deixando já longe as 2 rodas, passando agora a dispôr de 4 nas suas aventuras.
Paulo, como correu a época de 2007?
Começou como muitas outras, a disputar o Dakar, desta feita ao volante de um Toyota Land Cruiser. Não correu mal, chegamos ao fim, embora tenhamos passado por alguns problemas ao nível mecânico, um dos quais nos fez chegar muito tarde ao acampamento e impediu-nos de chegar melhor classificados a Dakar. O Toyota é um carro algo limitado, mas que permite uma certa regularidade e isso fica provado com os resultados na etapa, onde por muitas vezes figuramos nos 50, 60 primeiros, sendo os melhores do Challenge Toyota France.
Cá em Portugal, optei pelo Mitsubishi Pajero, na perspectiva de dar o salto em frente e alcançar resultados de relevo. É um carro extremamente competitivo e isso acarreta custos, impedindo assim uma presença mais regular no Campeonato Nacional de Todo Terreno.
E pontos altos e ponto baixos dessa época?
Exceptuando o resultado, o Dakar foi um ponto alto. Dakar é sempre aventura, aprendizagem e retiro sempre alguma coisa por cada Dakar que acrescento à minha conta pessoal. O 6º lugar no Rali Serras do Norte, em Macedo de Cavaleiros, também foi um excelente resultado, tendo em conta que estreava um carro, bem como era a estreia do Alberto Silva no Todo Terreno. A falta de apoios é, sem dúvida, o ponto menos favorável de 2007. Ter um carro como o Mitsubishi Pajero envolve custos muito superiores ao do Toyota e isso repercute uma irregular presença nas provas do Nacional de TT. E depois de ter feito tantas vezes o Dakar, custa-me quase ter que ficar em terra por dificuldades em arranjar verbas.
Tiveste 2 navegadores famalicenses, foi um feliz acaso ou é para manter essa aposta?
Gostava muito de a manter, mas pode-se dizer que foi uma excelente e feliz aposta. Em 2007 tinha previsto fazer as provas do Nacional de TT com o José Janela, mas por uma impossibilidade dele, na 1ª prova que estava nos planos tive que procurar alternativas. Ele próprio sugeriu o convite ao Alberto Silva e eu aceitei, apesar de ele ainda não ter feito TT, o que não o impediu de estar impecável e isso espelhou um bom resultado final. Entretanto, o José Janela voltou e fizemos mais um rali e depois tivemos juntos nas 24 Horas Vodafone, em Fronteira.
Como viste o cancelamento do Lisboa-Dakar de 2008?
É preciso analisar várias vertentes. Pela óptica da organização, percebo que eles não tinham outra hipótese. Depois do que aconteceu com o grupo de franceses na Mauritânia, tudo ficou sob alerta, sofrendo alguns recuos e avanços, e tudo cedeu com as seguradoras a abandonar o Dakar. A partir daí, as pressões do governo francês, o abandono também da Total e as ameaças terroristas intimidaram a ASO e a decisão é perfeitamente aceitável neste ponto de vista. Para nós, pilotos e equipas, é sempre um desgosto, ainda para mais quando se recebe a notícia em plenas verificações técnicas, ou seja, na véspera. Há consequências financeiras, obviamente, quer para os pilotos e mesmo para os nossos patrocinadores, e agora resta-nos procurar alternativas para minimizar o prejuízo causado.
E que futuro vês o futuro desta prova mítica?
Terá que haver uma reformulação. Acredito que nos próximos anos, haverá uma alternativa ao continente africano, possivelmente na América do Sul, até que se encontre um percurso altamente fiável e haja consistência política nos países que atravessamos. Nos últimos anos, já iamos por poucos países, face aos problemas na Argélia e no Mali e isso restringia-nos muito à zona mais atlântica de África, contudo as etapas eram sempre muito semelhantes, ano após ano e a monotonia não é saudável. Resta esperar que a organização tome uma decisão, mas acho que se houver capacidade e infra-estruturas no Chile ou na Argentina para colocar lá a caravana do Dakar poderá ser uma prova engraçada, mas obviamente com outra mística.
Que planos tens para a época de 2008?
Este cancelamento do Dakar desmotiva-me um bocado, contudo para já tenho o Mitsubishi Pajero a ser revistado e preparado, mas os custos continuam elevados e portanto só está prevista a presença em algumas provas do Campeonato de Portugal de TT. Prefiro preparar afincadamente o próximo Dakar, independentemente dos moldes em que se realizar, e provavelmente, farei o Rali dos Sertões, estando em dúvida se vou de carro ou se será um regresso, pontual, às duas rodas.
Em 2007, lançaste-te numa aventura na escrita, com o livro "Paulo Marques, a Vida de Roda no Ar". O que te motivou a fazê-lo?
Quem me conhece bem, sabe que me dá muito gozo e um gosto pessoal em contar as inúmeras aventuas e histórias da minha vida, principalmente a parte das motas. Já me tinha ocorrido a ideia de escrever um livro, mas não tinha conhecimento de como fazê-lo, até porque não tenho um arquivo muito organizado, nem tão pouco jeito para escrever eu próprio. Então, quase por coincidência, surgiu o convite do Germano de Oliveira Nunes e com umas boas horas de conversa e após termos visto muitas fotos, lá fomos nesta aventura de escrever o livro. É uma forma de fechar o ciclo das minhas particpações em provas aos comandos de motas, e igualmente de agradecer à família, aos amigos e aos patrocinadores que sempre me acompanharam ao longo da carreira nas duas rodas.
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