18 maio 2011

Terá sido o fim do Rali de Famalicão?

Foi longe dos holofotes que outrora incidiam sempre que ecoavam os motores nos arredores, que a última edição do Rali de Famalicão saiu para a estrada, há cerca de um mês. A opinião foi praticamente unânime: uma prova pobre, sem interesse e que em nada engrandece a cidade que muitos consideram como uma "capital" do desporto motorizado, pelo menos no que toca a valores lançados. Será o princípio de um fim anunciado?

Há várias décadas atrás, Famalicão convivia de perto com a nata dos ralis nacionais, com a disputa em estradas concelhias de provas do Nacional de Ralis e com isso os adeptos famalicenses assistiam entuasiasticamente às passagens dos melhores especialistas. O "bichinho" foi crescendo, culminando há 25 anos atrás com a primeira edição do Rali de Famalicão. A prova ia satisfazendo aqueles que nela apostavam e os adeptos também aderiam em massa, puxando pelos dotes dos pilotos nas estradas de Vilarinho, Fradelos, Portela, Requião e por aí fora. Porém, esse rali acabou em 1995, devido a várias divergências com a população e à época do ano em que se realizava - coincidente com lides agrícolas e vínicolas. Razões válidas ou não para terminar com o maior evento desportivo realizado até então em Famalicão, pois a cidade "mexia" no dia do rali.

Famalicão e as suas gentes persistentes e lutadoras, amantes deste desporto, fez com que uns anos mais tarde, no auge dos ralis regionais, a cidade voltasse a ser palco de um rali. Eram muitos os que vinham a Famalicão exclusivamente pela prova, uma das melhores do campeonato da altura, mas que foi caíndo na rotina e na monotonia, um pouco à imagem do restante campeonato e não houve a alavanca necessária para estar num patamar diferente do actual.

O concelho não é o mesmo desses tempos e muito do que foi feito em prol do desenvolvimento afectou o rali, mas isso é justificável do ponto de vista sustentável e de crescimento, lógico a qualquer concelho, não aplicado unicamente a Famalicão. Mas haverá certamente empreendedorismo, paixão, vontade e disponibilidade para arregaçar mangas, ultrapassar dificuldades e encontrar alternativas para que se faça algo que engradeça o desporto local e que as pessoas voltem a ter orgulho no Rali de Famalicão, bem como as pessoas que cá venham assistir sintam que, de facto, isto é um rali!

Nos dias de hoje, instalada a crise económica, há que criar incentivos que motivem as pessoas a deslocarem-se a Famalicão e não dar o seu tempo por perdido. Também numa altura em que as verbas disponíveis, públicas e privadas, são mais escassas e controladas, aceita-se que não seja tão fácil trabalhar e fazer uma "canoa" com os poucos "troncos" que nos fornecem. Mas nos mesmos dias de hoje, há ferramentas que estão praticamente ao acesso de todos e que facilitam a divulgação e a promoção de um evento deste género. A falta de promoção foi evidente na recente edição de Famalicão e se um adepto normal até poderá saber "quando, onde e quem", o comum cidadão também terá de ser um "alvo" a atingir, a levar para perto da prova e dos intervenientes. Não será certamente complicado fazer algo com destaque e eficaz, mas também é preciso ressalvar que o resultado não será o desejado se as coisas forem feitas "em cima do joelho", um pouco à imagem do que parecer ter acontecido este ano.

É comum questionar um organizador quando se começa a pensar na edição seguinte. A resposta é, salvo excepcções, sempre a mesma: "O próximo evento começa quando este acaba". Um rali envolve bastantes condicionalismos, nomeadamente a nível federativo, mas estará já na mente de quem idealiza a prova, como será a próxima edição? A questão mais pertinente é o porquê de um rali pontuável para o Regional Norte, disputado em pisos de terra, se apresenta após 3 ralis de asfalto e antes de outros 3 também em asfalto? Logicamente que a adesão não poderia ser muita, aliás basta ver que apenas 5 (!!!!) concorrentes inscritos nesse campeonato estiveram presentes, para além de ser um campeonato com 11 provas, sendo contabilizadas apenas os 7 melhores resultados. Perante tais condições, não seria expectável o que se viria a confirmar no rali? A lógica remete-nos para duas alternativas: ou a mudança de data ou mudança para asfalto. Se a data pode ser contornável, já organizar um rali de asfalto não será fácil (aliás, como qualquer rali só por si...), tendo em conta que uma prova nesse piso causa um maior transtorno às populações, pois as estradas secundárias famalicense passam por zonas com densidade populacional relevante. Como já foi dito, uma das prinicipais causas para o rali acabar na década de 90 foram pressões das pessoas e com a proximidade das eleições locais, "mexer com a população" é um assunto "delicado", podendo isso constituir um entrave. No entanto, a organização pondera mesmo a hipótese de uma mudança de piso, regressando ao asfalto, como foi inclusivé referido no final da última edição do rali.

Analisando a fundo, o Rali de Famalicão é dos mais antigos ralis que se disputam initerruptamente no nosso país, sendo sem dúvida o mais antigo no Regional Norte, já com 12 edições neste mesmo campeonato. No Open de Ralis, que nasce a partir do extinto Campeonato de Promoção/Iniciados, não há um único rali que se disputasse anteriormente ao de Famalicão. Não seria o concelho merecedor e capaz de abranger um rali dos principais campeonatos e ter oportunidade de ver em acção alguns dos melhoers pilotos nacionais? Basta olhar para os concelhos vizinhos e ver como se coloca de pé um rali com "cabeça, tronco e membros", com apoio da edilidade, de empresas e de entusiastas. Barcelos é um perfeito exemplo e devidamente (re)conhecido.

Estarão as entidades locais competentes a desligarem-se do desporto automóvel? Já muito se escreveu e debateu sobre este ser um desporto dispendioso, quer para os intervenientes, quer para os patrocinadores, sendo cada vez mais uma prática generalizada serem as autarquias a sustentarem o rali, sob muito esforço e com um retorno que é discutível. Em Famalicão, pairou no ar que este rali já foi para a estrada com dificuldades e não será alheio o facto da Super-Especial, a primeira do género a aparecer isoladamente em Portugal, não figurar sequer nos calendários para a temporada presente. Será que a Câmara Municipal se cansou de lutar pelo automobilismo, pois não vê nisso um bom investimento? Haverá desgaste por não conseguir colocar de pé as ideias pensadas? Ou será intenção daquela que é a entidade com maior interesse no Rali, bem como aquela que mais o apoia, não dar mais "nozes" a quem parece "não ter mais dentes"?

O nosso país enfrenta uma época de contenção, de reflexão e de esforço, mas também de união e de força para encontrar a motivação para dar a volta à já referida crise instalada. Mas será igualmente necessária ajuda externa também em Famalicão para que o Rali volte a ser um ex-libris para o concelho e retorne ao caminho certo para o sucesso? As mangas já deviam estar arregaçadas!

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