O Rally de Portugal foi uma autêntica odisseia e um desafio à sobrevivência, com muitas histórias, percalços e peripécias a darem bastantes dores de cabeça a pilotos e equipas. Desde 1993 que um piloto privado não vencia um rali no WRC, um desfecho que estará em suspenso até à próxima prova e que surgiu já depois da parte competitiva ter terminado. Para os famalicenses e para não fugir à regra, foi uma prova complicada mas positiva.
Com muita instabilidade climatérica, pois choveu nas especiais nocturnas de 5ª feira, nas classificativas de 6ª, as quais só se realizaram na primeira passagem e ainda nas derradeiras de Domingo. Em suma, só no Sábado houve tréguas e os pilotos puderam andar sem preocupações com a lama e com a imensa água no traçado.
Desportivamente, a prova organizada pelo ACP fica maracada pelo aparatoso despiste de Sebastien Loeb, logo na PEC 3. O pluri-campeão mundial percebeu mal uma nota dada pelo navegador e não conseguiu evitar a saída de estrada, deixando o Citroën DS3 irreparável para regressar em Rally2. Assim, os homens da Ford, com uma ordem de partida mais resguardada, assumiam a liderança, mas por pouco tempo. Logo na fase inicial da 2ª Etapa, primeiro foi Latvala que saiu de estrada e logo de seguída, também quando liderava, foi a vez de Petter Solberg. Pouco fazendo por isso, Mikko Hirvonen assumia confortavelmente a liderança, até porque o homem que vinha constantemente a rubricar os melhores cronos - Dani Sordo - já vinha em Rally2, depois de ter tido problemas eléctricos no Mini JCW WRC logo na PEC 2.
A partir daqui, o rali tornou-se monótono e sem discussão pela liderança, pois todos os adversários em condições para o fazer face a Hirvonen, estavam consideravelmente atrasados. Quer Latvala, quer Solberg voltaram ao rali e andaram sempre em ritmo de ataque, mas o finlandês ainda perderia mais tempo numa das especiais, com problemas mecânicos no Ford Fiesta WRC. Quanto a Sordo, e apesar de também ter parado numa classificativa, estava imparável e vencia troços atrás de troços, mostrando algo pouco visto até agora, ou seja, a competitividade do Mini em pisos de terra.
Os lugares do pódio eram então ocupados por dois Ford privados, nomeadamente Mads Ostberg e Evgeni Novikov, que se resguardavam ao máximo das armadilhas das especiais do Baixo Alentejo e Algarve. O russo ainda passou pelo 2º lugar, mas foi por pouco tempo e assim que Ostberg o passou, foi cimentando a vantagem, embora longe do 1º posto.
Com o final do rali e depois de ter festejado o triunfo com quase 2 minutos de vantagem, Mikko Hirvonen via-lhe cair um autêntico balde de água fria, com muitos a pensar ser uma partida de 1 de Abril. Uma irregularidade na embraiagem e ainda uma outra no turbo do Citroën DS3 WRC ditavam a desclassificação do piloto finlandês, ainda que a equipa tenha decidido apelar da decisão dos Comissários Desportivos. Assim, Mads Ostberg teve uma vitória caída do céu e a primeira de uma equipa privada desde 1993. O sueco tinha como melhor resultado o 2º lugar, conquistado na Suécia e em Gales, no ano passado, suplantados agora com este tardio mas saboroso triunfo em Portugal. Uma nota de rodapé para referir que pela primeira vez, o piloto que venceu o rali, não triunfou em qualquer especial.
Novikov subiu ao 2º lugar, sendo igualmente o seu melhor resultado até agora no WRC, ele que nunca terminara no pódio. O russo ainda teve alguns problemas na fase final, mas geriu o seu andamento, não correndo riscos que o colocassem fora de prova. Com um andamento espectacular desde que saiu de estrada, Petter Solberg ainda logrou chegar a 3º, um mal menor depois do azar na 2ª etapa e que minimizou o prejuízo para a equipa Ford. A encerrar o lote dos cinco mais rápidos e autores de uma prova regular, terminaram Nasser Al Attiyah e Martin Prokop. Mais atrás e depois de alguns problemas mecânicos, uma nota positiva para Dani Sordo. O espanhol foi quem mais especiais venceu, foi o mais rápido na Power Stage e deu espectáculo. O 11º lugar não é de todo um resultado justo.
Algo apagada foi a prestação de Armindo Araújo, de quem os adeptos portugueses muito esperavam. Logo na 5ª à noite, uma saída de estrada ditava um atraso considerável, relegando-o para lugares muito atrasados. Contudo, na 2ª Etapa e sob condições adversas, as diferenças entre os carros não eram tão vincadas e o piloto do Mini JCW WRC rodou nos lugares cimeiros, mas voltou a atrasar-se assim que o dia de Sábado nasceu solarengo e com pisos secos. O atraso foi ainda maior quando um braço de direcção se partiu e deixou o piloto tirsense apeado, obrigando-o a abandonar e a regressar no dia seguinte em Rally2. Nada mais restava a Araújo do que trazer o carro até ao final, ainda que com mais um ou outro problema, num modesto 15º posto final.
Nas hostes lusas e referentes ao Campeonato de Portugal de Ralis, Pedro Meireles foi totalista e somou a pontuação máxima. Mesmo com problemas ao nível da caixa de velocidades do Mitsubishi Lancer X, que surgiu aqui com a evolução R4, Meireles teve um excelente saldo para as contas do Nacional e repetiu o triunfo do ano anterior.
Com o 2º posto e embora longe da vitória, Miguel Barbosa/Justino Reis, tiveram um saldo extremamente postivo no Rally de Portugal. A dupla de Famalicão teve um rali recheado de contratempos no Mitsubishi Lancer IX, desde problemas eléctricos nas especiais nocturnas, a embraiagem também deu dores de cabeça e, last but not least, ainda um diferencial partido. Mesmo que a 12 minutos de Meireles, o jovem famalicense segurou o lugar intermédio do pódio, mostrou um bom andamento para as condições vividas e para quem ainda poucas provas do Nacional fez. A recompensa é ainda maior, pois Miguel Barbosa é agora líder do Campeonato de Portugal de Ralis.
Mesmo que só tenha terminado uma etapa, Ricardo Moura ainda foi o 3º nas contas nacionais, num rali nada fácil para o campeão em título. Mesmo não pontuando para o CPR, João Fernando Ramos e o famalicense Jorge Carvalho também chegaram ao fim, cumprindo a totalidade do percurso, conquistando o 5º lugar entre os pilotos lusos. Com um Mitsubishi Lancer X bastante fiável, a dupla apresentou uma toada dentro dos limites e evitando problemas mecânicos, concluíndo a prova no 28º posto.
Quem também teve um rali complicado foi a dupla composta por João Silva e pelo navegador famalicense José Janela. A estrearem-se aos comandos do Ford Fiesta R2 da WRC Academy, concluiram a prova no 8º posto, mas pouco satisfeitos com a prestação conseguida. As dificuldades começaram logo na 5ª à noite, com a chuva e lama a apresentarem-se como o principal adversário, tendo como desfecho duas ligeiras saídas de estrada e muito tempo perdido. A etapa seguinte, com apenas duas especiais decorridas derivadas das várias anulações, ditaram ainda um caixa de direcção partida e só no derradeiro dia - o WRC Academy terminou após as primeiras passagens de Sábado - é que conseguiram uma prestação melhor, mas não melhorando o 8º lugar, ainda que nas contas lusas tenham sido até aí os mais rápidos entre as duas rodas motrizes. O próximo confronto entre os jovens lobos é na Grécia, onde João Silva e José Janela certamente mostrarão alguma evolução e melhor adaptação ao novo carro.
Por fim, resta falar dos concorrentes Open, que realizaram somente as três especiais de Sábado. Uma prova animada, pois teve três líderes em outras tantas especiais. Ricardo Teodósio foi o primeiro e logo com muita vantagem, mas viria a capotar e terminava por aí a sua prova. Era então a vez de Luís Mota assumir a liderança, mas furava e perdia imenso tempo igualmente, deixando Orlando Bule no comando, que seguraria até ao final. No 2º lugar e mesmo após uma ligeira, mas espectacular saída de estrada, ficou a dupla famalicense Bruno Costa/Filipe Martins.
Um excelente resultado e também uma meritória exibição, sempre perto dos lugares cimeiros e controlando quem os perseguia, para além de terem evitado problemas mecânicos no Mitsubishi Lancer VI. A encerrar o pódio terminou Márcio Marreiros, com somente 0,1 segundos de vantagem sobre a outra dupla da Macominho Sport, nomeadamente Mário Almeida/Nuno Almeida. Mesmo sem competir há algum tempo, o piloto famalicense estava satisfeito com a prestação, mesmo tendo sofrido duas saídas de estradas, contudo sem mazelas para o Mitsubishi Lancer VI. A outra dupla famalicense José Pedro Miranda/Daniel Miranda, com vários contratempos, não foi além do 17º posto.Classificação Final
1º Mads Ostberg/Jonas Andersson (Ford Fiesta WRC) - 4h21m16,1s
2º Evgeny Novikov/Dennis Giraudet (Ford Fiesta WRC), a 1m33,2s
3º Petter Solberg/Chris Patterson (Ford Fiesta WRC), a 1m55,6s
4º Nasser Al-Attiyah/Giovanni Bernacchinni (Citroën DS3 WRC), a 6m05,8s
5º Martin Prokop/Zdenek Hruka (Ford Fiesta WRC), a 6m09,2s
6º Dennis Kuypers/Robis Buysmans (Ford Fiesta WRC), a 6m47,3s
7º Sebastien Ogier/Julien Ingrassia (Skoda Fabia S2000), a 7m09,0s
8º Thierry Neuville/Nicolas Gilsoul (Citroën DS3 WRC), a 8m37,9s
9º Jari Ketomaa/Mika Stenberg (Ford Fiesta WRC), a 9m52,8s
10º Peter Van Merkesteijn/Eddie Chevaillier (Citroën DS3 WRC), a 10m11,0s
11º Daniel Sordo/Carlos del Barrio (Mini JCW WRC), a 12m23,7s
12º Daniel Oliveira/Carlos Magalhães (Ford Fiesta WRC), a 15m02,3s
13º Jari Matti Latvala/Miika Antilla (Ford Fiesta WRC), a 17m02,6s
14º Ott Tanak/Kundar Sikk (Ford Fiesta WRC), a 17m15,1
15º Armindo Araújo/Miguel Ramalho (Mini JCW WRC), a 21m03,9s
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18º Pedro Meireles/Mário Castro (Mitsubishi Lancer X R4), a 37m15,4s (1º CPR)
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22º Miguel Barbosa/Justino Reis (Mitsubishi Lancer IX), a 52m34,0s
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28º João F. Ramos/Jorge Carvalho (Mitsubishi Lancer X), a 1h33m05,7s
Classificação Open
1º Orlando Bule/Luís Assunção (Mitsubishi Lancer VII) - 58m02,3s
2º Bruno Costa/Filipe Martins (Mitsubishi Lancer VI), a 37,8s
3º Márcio Marreiros/Pedro Conde (Mitsubishi Lancer VI), a 51,9s
4º Mário Almeida/Nuno Almeida (Mitsubishi Lancer VI), a 52,0s
5º António Nunes/Filipe Fernandes (Mitsubishi Lancer VI), a 1m43,1s
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17º José Pedro Miranda/Daniel Miranda (Subaru Impreza WRX), a 15m41,3s
Fotos: Oficiais, Pedro Contente, Rallysportslive, Autosport, Record, João Lavadinho e Ralis Online
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