03 janeiro 2012

"Nos Açores há um cariz próprio em cada prova", assegura Justino Reis

Justino Reis é mais um dos experientes navegadores famalicenses e igualmente um dos que teve resultados de relevo em 2011. Mesmo com uma participação reduzida no Campeonato dos Açores de Ralis, um 3º lugar absoluto coroou esta época, feita também de participações esporádicas e de uma presença nos bastidores de uma das competições mais mediáticas da velocidade, o Ford Transit Trophy.

Qual o balanço geral da temporada de 2011 em termos dos objectivos propostos no início?

2011 foi mais um ano com um balanço positivo, pois se temos oportunidade de fazer várias provas e estar dentro de vários carros de corrida e divertimo-nos, independentemente dos resultados, isso é sempre muito bom. Destaco, naturalmente, a meia época que realizei no Campeonato dos Açores, na continuidade dos anos anteriores, onde ainda assim consegui um excelente 3º lugar na Classificação Geral e ainda do agrupamento de Produção, fruto de ter terminado as provas participadas sempre no pódio. Este era o único campeonato em que pensava estar envolvido e os resultados corresponderam claramente ás minhas expectativas. De resto, mesmo não estando envolvido na disputa de qualquer campeonato, todas as outras participações foram muito divertidas e pude ter o prazer de andar com outros pilotos e carros diferentes.

Qual o melhor momento e o menos bom das provas efectuadas?

De um modo geral não houve momentos negativos, apenas algumas desistências em provas que nos deixam sempre algo tristes naquela hora. Bons momentos foram vários, mas destaco todas as provas nos Açores e o Rali de Mortágua, que fiz com o Eduardo Veiga num carro muito engraçado, um Ford Escort MK2 com upgrades modernos.

Qual o adversário mais duro de roer?

Tivemos lutas, como já vinha sendo hábito nos anos anteriores com vários pilotos no Campeonato dos Açores. Algumas vencemos, outras perdemos, mas destaco as que tivemos com o Luis Rego Jr. que é muito jovem e tem evoluído rapidamente. Destaque para outro adversário, practicamente imbatível nos Açores, o Ricardo Moura, e cuja vitória no Campeonato de Portugal de Ralis demonstrou o seu bom momento.

Houve alguma peripécia engraçada que queira partilhar?

Não houve nada de muito hilariante durante este ano, mas já se sabe que, às vezes, algumas das desistências que naquela altura não têm piada nenhuma, depois acabam por deixar recordações engraçadas. Neste caso, foi no Rali de Mortágua, que, depois de termos vindo "depressinha" na ligação, chegamos em cima da hora para o controlo e avançamos para a nossa vez na partida. O caricato foi que quando chegou a nossa hora de partir, o carro, com o aquecimento, "agarrou" os travões da frente e nem se mexia, nem para a frente, nem para trás. A solução, depois de algum atraso para a prova, e com a natural desistência, foi arrumar o carro a peso com os controladores e bombeiros. Alguns minutos depois, com o arrefecimento e uma pequena intervenção o carro já estava a circular, mas tivemos que regressar para casa mais cedo.

Está ligado ao Ford Transit Trophy, pensa que poderia ter sucesso nos ralis?

O projecto Ford Transit é uma competição original e inovadora e funciona muito bem nas pistas. Honestamente, até porque fiz uma pequena experiência ao lado do Rui Azevedo no Sponsor Rally Day, não me parece muito interessante a realização de ralis nestas viaturas, principalmente pelo maior investimento que teria que ser feito nas viaturas em alguns órgãos mecânicos e de segurança para poderem ser utilizadas em provas de estrada. Posso acrescentar que essa ideia até foi já discutida no seio da organização e dos participantes mas foi opinião geral que não faria muito sentido essa ideia nesta altura, até porque a edição 2012 deste troféu não está garantida.

Como se vivem os ralis nos Açores, sente-se diferença numa prova?

Obviamente que no esquema dos ralis não existe nada de muito diferente a destacar, mas por outro lado existem diversas coisas muito interessantes e divertidas ao longo de todo o campeonato, pois todas as provas têm um cariz muito próprio, por reflectirem todas elas a própria identidade da ilha em que se disputam. Na Terceira, existe uma paixão incrível pela modalidade, é a terra dos ralis e das touradas, muita loucura, um ambiente antes, durante e após as provas sem igual. A tudo isto há que acrescentar a fidelidade de um patrocinador histórico a um rali, a Sical, que comemorou este ano 30 anos de apoio ao Rali Sical da Terceira. No Faial, o acolhimento e a beleza dos troços que são dos mais incríveis e bonitos troços de terra de Portugal, com um piso muito característico. Em Santa Maria, uma ilha tão pequena, mas com troços muito difíceis cujo rali é o ponto alto anual, uma verdadeira festa. Posso até dizer que, ao contrário do que se possa pensar, os ralis com menos piada até acabam por ser os de São Miguel, que continua a ter troços lindíssimos, mas cujo desenvolvimento da ilha e a pouca atenção dada aos ralis mais pequenos tem retirado o destaque que outrora estas provas lá tinham. No geral, é um campeonato onde ainda se sente a verdadeira paixão do amadorismo e as provas são pensadas como uma festa, pois, por exemplo, a medida de entregar as taças no pódio lá não é utilizada porque as organizações tentam acabar sempre as provas com algo diferente, festas na discoteca, karaoke, música ao vivo, comes e bebes, etc… . O único problema é a ressaca do dia seguinte!

Quais os planos para a próxima época?

Para a próxima época, como projecto prioritário deverei estar envolvido na participação em todo o Campeonato de Portugal de Ralis com um jovem piloto famalicense. Poderei eventualmente fazer algumas presenças esporádicas no Open ao lado do Eduardo Veiga, no seu Ford Escort, um bocado em função dos seus planos e da minha disponibilidade. E mesmo já não me sobrando muito tempo, fora do papel de navegador, mas dentro das competições ainda deverei colaborar num interessante Projecto no Campeonato de Espanha de GT com um espectacular carro que vai ser novidade nesse campeonato. E ainda poderei estar presente a gerir também a participação da Daro no Ford Transit Trophy, no caso deste se realizar. Isto quer dizer que, em principio vai ser mais um ano rodeado de muitos motores!

Que mensagem deixa aos adeptos e leitores do Famalicão Motor?

Quero apenas dizer que felizmente continuamos a ter muita paixão por este desporto em Famalicão, e cujo exemplo é a dedicação e empenho deste site/blog, o que não devemos deixar morrer. Permitam-me só abordar o tema Rali de Famalicão, pois é um assunto que me deixa algo triste em ver o rumo que levou nos últimos anos e cujo final foi a sua anulação para este ano. Se calhar com a união e espírito empreendedor de todos poder-se-á revitalizar e dar um novo protagonismo, mesmo com custos muito controlados a este evento, que é, na minha opinião muito mais importante que uma Super Especial.

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